terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Família


Tradição lá em casa é almoço em família.
Lembro da minha mãe, manicure, entre pintar unhas de clientes e levantar para mexer o arroz. Minha mãe gosta da família unida. Meu pai brigava com a gente de manhã e, no fim da tarde, quando ele atravessava o portão, chegando do trabalho, ela punha a gente para levantar e ir recebê-lo com um beijo.
Minha mãe gosta de todo mundo junto no almoço. Mas ela mesma não para quieta.
Estávamos todos acomodados e ela sempre levantava porque esquecia uma colher ou saleiro na cozinha. Quando não comia de pé. Sempre correndo.
Hoje tem a netinha para ela segurar no colo durante a refeição e dividir o prato.
Acaba que não observa o cheiro bom do frango, não percebe a leveza do purê, não lembra de me elogiar pela salada.
Nem era elogio que eu queria... Meu irmão saiu de casa em 98. Eu, em 2003. Ele voltou a morar no Rio em 2006. Eu ainda sigo cigano pelas retas sem fim da capital federal.
Num fim de semana desses, depois que descobri que é possível cozinhar com estilo e sofisticação, resolvo visitar meus pais e dar à família um almoço.
Não pelos elogios, mas para reunir mesmo.
Resolvo pelo prato mais fácil para não ter erro.
Minha mãe enche a agenda para sábado de manhã e se atrasa. Depois, come às pressas sem expressar satisfação- só uma certa ansiedade. Lava a louça e, enquanto a aguardamos tomando uma cervejinha no terraço, ela está lá atrás lavando a varanda.
Eu a encaro incrédulo com o rodo na mão. Ela me fita com culpa e, por que não desespero? "Já acabei, meu filho. Não fala nada."
Não queria o elogio.
Queria que ela envelhecesse tranquila. Sem ansiedade ou culpa. Queria que ela sorrisse satisfeita enquanto experimenta um bom prato.